Na Ilha do Mel não tem carro.
Pode parecer um fato simples, mas depois de um ou dois dias caminhando entre a pousada e o restaurante, ou pegando um barco pra ir um pouco mais longe, você percebe que a vida pode ser bem mais simples.
Você entra num ritmo mais tranquilo, passa a prestar mais atenção aos detalhes, se diverte com as crianças brincando na praia. Brincando de verdade, como crianças, sem nenhum pai, mãe ou responsável por perto pra gritar bobagens como “CUIDADO PRA NÃO SE SUJAR DE AREIA, CUIDA COM ESSA BOLA, NÃO SE PENDURA NA ÁRVORE QUE VOCÊ VAI CAIR”.
Mas vamos começar do começo. O sul do Brasil sofre de uma concentração injusta de boas praias. Enquanto Santa Catarina tem 42 só na capital, os vizinhos Rio Grande do Sul e Paraná precisam se virar com coisas menos importantes, como cultura e tradição.
Mas a Ilha do Mel vale por um litoral inteiro e deixa o Paraná em um honroso segundo lugar no inexistente e desnecessário campeonato de melhores praias do sul.
Pra chegar lá é fácil, rápido e barato. Embarcamos em Pontal do Sul. Pra agilizar as coisas e chegar cedo na ilha, como era só um feriadão, já dormimos em Guaratuba (alô Projeto Humanos!) na quarta. Na quinta, pegamos a balsa e seguimos até o pontal. A área de embarque está cheia de estacionamentos pra você esquecer seu carro. Alguns aceitam cartão, outros não, então levar dinheiro vivo é uma boa dica. Na ilha não tem caixa eletrônico, mas praticamente todos os lugares que a gente comeu aceitavam cartão.
A travessia leva coisa de meia hora e custa 30 pelecos (ida e volta). Pegue leve na mala, porque chegando lá você vai ter que carregar tudo pela areia da praia. Tem carregadores no píer querendo te fazer esse favor por uns trocados, mas pensa bem o que mais você precisa além de roupa de praia?
Ficamos na pousada Canto da Galheta, que fica no fim da praia de Encantadas, a 200m do desembarque. Perto de tudo (menos do barulho), quarto confortável e café da manhã bem legal, numa área aberta com vista pro mar. Nos fundos da pousada tem até uma trilha que leva para uma mini praia meio secreta.
A praia de Encantadas é bem tranquila, com aquele mar de baía, sem ondas. Mas tem uma estrutura boa de bares, restaurantes e cafés em frente ao mar. Nada que mereça muito destaque, no geral a comida é levemente cara e sem graça.
O açaí do café Urublues foi nosso ponto obrigatório no fim de todo dia. Também tem uns petiscos interessantes, uma salada com camarão bem servida e uma mesa de sinuca no Eclipse, bem do lado do píer. Mas nada superou a delícia que é comprar uma cerveja no mercadinho, sentar no banco em frente e ficar curtindo o vai e vem de gente, as crianças brincando e a roda de capoeira do fim da tarde.
Mas o que interessa é praia!
Como esse mar de piscininha é bom só pra quem tem criança e a gente estava em modo casal, Encantadas só serviu pra relaxar no fim do dia, jogar um frescobol e pra alugar um caiaque. O legal é que basta andar 5 minutos pra chegar no outro lado da ilha, onde tem duas praias lindas: a da gruta e da bóia. A primeira tem toda uma estrutura de madeira pra se chegar na tal da gruta e fazer sefies nas pedras, mas a praia é bem pequena (e linda). A segunda é uma praia bem aberta, com boas ondas, espaço pra armar barraca e caminhar.
Uma trilha que atravessa uma ilha
Nossas viagens nunca são 100% moleza. Tem sempre que ter uma aventurazinha. Por isso, já no segundo dia, encaramos a trilha que leva até o outro lado da ilha, a praia de Nova Brasília. O objetivo era chegar na Fortaleza Nossa Senhora dos Prazeres, a mais ou menos 8 km da pousada.
A trilha é na maior parte aberta, o primeiro trecho corre paralelo à praia da bóia. No final da praia tem um morro, fácil de subir e com uma vista bem legal. Na praia seguinte, uma parada pra um suco ou uma agua de coco e a trilha segue fechada pela mata. Ainda bem, a gente já tava fritando por fora e cozinhando por dentro com o sol de novembro.
Chegamos em Nova Brasília perto da hora do almoço, pelo nosso relógio biológico. A estrutura é parecida com a de Encantadas, mas um pouco mais compacta. Depois do almoço ficou difícil seguir caminhando, então pegamos um barco na praia para chegar no forte.
O preço da carona diminui se tiver mais passageiros, então ficamos ali, de bobeira, batendo papo com os barqueiros até aparecer mais gente. Resolvido esse detalhe, o passeio de cinco minutos economiza uma hora de caminhada na areia.
O Forte é lindo, tem um pequeno museu dentro várias vistas dignas de muitos likes no insta. Mas o legal mesmo é subir pra conhecer o mirante e os canhões que ficam na parte de cima. Vale o suor.
Pra voltar a Encantadas, pegamos o barco que faz a linha normal de transporte entre as praias, custa uns 5 reais a passagem. Pagaria 50 tranquilamente pra não precisar caminhar tudo de volta. Se a sua forma física, tempo ou orçamento permitir, dá pra fazer todo esse passeio de barco, com a vantagem de parar para uns mergulhos. Fica pra próxima.